Vivendo a crise dos 30. Aceita que dói menos!

Written by: Coluna Destaque

Com uma velocidade cruel e sem ser convidado, ele de repente teimou e chegou: 30 anos!

Às vezes sinto como se a ficha ainda não tivesse caído. Ainda ontem tinha 20 e muitas coisas que gostaria de ter feito. A sensação que tenho ao entrar nesse novo ciclo dos 30 é de estar em um limiar de alguma coisa grave. A liberdade impera e a insegurança dos 20 ainda existe, mas com algumas pitadas de autoconfiança.

A indiscutível verdade é que o tempo voa e, de repente você não é mais aquela adolescente que gostava de brincar por horas de boneca ou andar de bicicleta com rodinhas. Ficou para trás o tempo em que chegava em casa e tinha que fazer a lição e não via a hora de terminar para em seguida assistir a Sessão da Tarde. Que época gostosa, não? Quando os boletos ainda não chegavam à sua residência.

Enquanto os 20 costumavam ser caracterizados pelos esforços, estudos, emprego ou desemprego, pela escolha da carreira certa. Na década seguinte é o momento de curtir o sucesso profissional e financeiro. Afinal até o momento parece que você só emitia promissórias, agora vai começar a pagar.

Vida adulta. Boletos e mais boletos. Imagem: Free Pik

Mas num belo dia você acorda, pisca e puft! Trinta anos cravados como uma estaca lhe atravessandoÉ uma pena o projeto da “terra do nunca” ter falhado. Vontade de bater em quem vetou essa proposta (bater com força).

Algumas mudanças internas ficam evidentes e ocorrem de forma gradativa e acelerada; física, emocional e psicologicamente falando. Antes era possível ficar sem ir ao banheiro por horas, mas ultimamente prender o xixi não é mais uma opção para quem fez 30: a incontinência urinária é uma realidade e ninguém merece passar por isso. E bem sabemos que esse problema afeta muito a pessoa que é acometida, desde a vida social à sexual. Outro dia li algo sobre isso, que cerca de 14% das mulheres podem vir a sofrer com esse mal, se não se adequarem aos cuidados pontualmente necessários.

As atividades que você costumava fazer com todo gás já não são mais tão interessantes e você já não é mais tão produtiva quanto antes. Mesmo sendo apenas 30 anos, as costas já doem. A fase fanfarrona da faculdade chega ao fim, e nitidamente as coisas ficaram sérias, mesmo não tendo a menor ideia do que está fazendo. Trocar facilmente as noites de sextas de happy hour com os amigos por ler um livro ou pela Netflix largada no sofá é uma ótima opção. É menos cansativo.

Um bom filme acompanhado de pipoca é um ótimo programa. Imagem: Free Pik

Aquelas amizades eternas que você ainda mantém, não requerem mais tantas mensagens de declarações no Facebook ou algumas visitas com tanta frequência; algumas vão se desfazendo e permanecendo apenas as verdadeiramente sólidas. Consequência do quanto você fica mais seletiva nos relacionamentos e nos romances também. Além disso, ficar sozinha é incrível; você é a melhor companhia para si mesma. Tem que ser, oras!

Perante a sociedade, obrigatoriamente nesta idade você já deveria ter uma bela casa, um carro novo ou da moda, uma carreira bacana, bem-sucedida e uma vida financeira consideravelmente estável; não esquecendo, claro, do cara perfeito. O perfeito não existe, mas o par ideal, sim. Isso é tudo que uma mulher de 30 “necessita” para realmente ser (e ter) a idade do sucesso. E receber o certificado de aprovada pelo Inmetro da vida real.

Filme “De repente 30”. Imagem: Telecine

É engraçado como as pessoas insistem em dizer: “Não sei porque você ainda está solteira!”. Basicamente estão dizendo: “Deve haver algo de errado com você”. Às vezes achamos que elas têm mesmo razão, dependendo do período da TPM. Comentário desse tipo derrubariam até o Incrível Hulk (se ele fosse mulher). Sei que quem o faz não tem a menor intenção de ofensa ou cobrança, porém isso não muda a ideia de eu continuar achando que seja totalmente desnecessário.

Ah, tenha a santa paciência!

Não há diferença alguma entre você, enquanto solteira, e sua amiga que está em um relacionamento (bem marcado no Status claro), a não ser considerar o fato de que você terá o dobro de amizades! O problema é que as pessoas dão mais valor a estar em um relacionamento do que a estar solteira. O mundo constantemente prega que nossa vida seria melhor com alguém, talvez por isso a estranha sensação de o tempo estar se esgotando sem qualquer misericórdia. Tudo isso vai deixando o cenário desesperador. Se pudesse mitigar esse sentimento, com certeza o faria.

Acho que o mais importante para tudo isso é partir para uma terapia mesmo (brincadeirinha e risos).

O passo é focar na resiliência, na paciência, fazer sua parte, confia e ouvir o feedback da vida. Descansa, ajusta e vai realizar tudo que você mais almeja. E o se o almejado for mesmo um bonitão? Ai, meu Deus!

Eu me contento com o ator Channing Tatum. (Photo by Alberto E. Rodriguez/Getty Images for CinemaCon)

É preciso perceber e separar os galhos da árvore da sua vida que ainda podem frutificar daqueles que precisam ser podados urgentemente, para que o restante da árvore readquira o vigor.

Essa nova travessia mostra uma questão de posicionamento diante da vida, é uma maneira de encarar as adversidades com mais leveza, de ser mais aberta, de estar mais para fora, de não se importar apenas com os seus próprios interesses.

Seus valores melhoram e amadurecem. Acontece mais prática e menos fala. A preocupação em querer que os planos deem certo é mais forte que antes; naturalmente você se sente mais responsável por você e pelos outros.

Aceitar as próprias falhas, refletir na crise de identidade e não se permitir errar também veem com os trinta, essa cobrança é inevitável. A percepção que temos é que as coisas ficam mais claras, ainda nos sentimos jovens, mas não pensamos da mesma forma que dez anos antes. Naturalmente ficamos mais conscientes sobre nossas atitudes (e a dos outros também). O difícil, porém não impossível, é separar o lado emocional do racional, pois as emoções ficam um turbilhão, e saber administrá-las com maestria não é uma tarefa fácil.

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Contudo, olhando por outra perspectiva há coisas que não mudam. Eu continuo gostando das mesmas coisas, procurando os mesmos prazeres, reconhecendo a simplicidade e a alegria de cada momento vivido ou experimentado. Continuo sendo eu mesma, só que numa versão melhorada e ansiando pelos mesmos sonhos (alguns já realizados graças a Deus).

Meus valores e crenças não mudaram, pelo contrário, só os afirmei ainda mais. As responsabilidades aumentam, há mais compromissos e mais despesas. Mas não há como negar que com tudo isso vem a paciência, mais maturidade e algumas dificuldades, e que alguns percalços é possível resolver de forma autônoma.

A sua intuição não falha, seu olhar torna-se mais clínico, a percepção quanto às situações fica mais aguçada, o que evita possíveis desdobramentos e, você consegue agir de forma mais sábia e inteligente.

O perigo em meio a tudo isso é que existe uma necessidade real e um questionamento interno que grita periodicamente; é uma pergunta que vem com essa idade: qual é o sentido que você vai dar para a sua vida a partir de agora?

Profundo, não? Existe uma urgência interna de autorrealização, de sentir a vida, de ter um pulso, de dá um novo significado a ela. No fundo o que mais massacra em toda essa idade é que achei que estaria vivendo uma outra fase da minha vida; aspirei isso para mim, achei que tivesse realizando mais sonhos. Óbvio que me refiro à família (pacote casamento, filhos, carreira e méritos profissionais). Permitam-me uma pausa para risos nervosos e dramáticos.

O balanço da vida. Imagem: Pexels

Mas tudo bem também. Uma amiga sempre me diz: Não dá para ganhar todas! E quantas ganhamos mesmo nos últimos meses e anos? Deixa para lá.

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Uma frase bem contundente da escritora Marta Medeiros e que define como me sinto agora é:

Sou uma mulher madura que às vezes anda de balanço. Sou uma criança insegura que às vezes usa salto alto. Sou uma mulher que balança. Sou uma criança que atura”.

É assim que acontece às vezes, nem tudo sai como o planejado. Percorremos caminhos diferente do que esperávamos. Fazer uma “auditoria interna da vida” para avaliar satisfação e conquistas requer muita coragem.

Calma, nem tudo é só horrores e tormento! Vêm de bônus uma autoconfiança que nem você sabia que tinha, acontece naturalmente uma autodescoberta; você conhece e reconhece quem você é. Se propõe a mais desafios e não se permite estar na zona de segurança.

Por melhor que sejam as suas intenções, não poderá ajudar ninguém, se não se ajudar primeiro. A mudança começa em você. Valorizar mais o “ser” nem tanto o “ter” porque isso não a torna melhor que ninguém. Não importa a velocidade do mundo lá fora, importa a velocidade aqui dentro (dentro de você) e a velocidade que quero dar aos meus passos.

Por fim, com tudo isso vem a conquista e o aprendizado adquiridos.

A vida é volátil.

Ela balança a gente. E muita coisa acontece no caminho percorrido e pode surgir uma curva não premeditada, mas ainda assim, você se sentirá mais preparada que antes. Há uma maior conexão com seu corpo, alma e coração.

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Tags:, , , , , , , , , , Last modified: 14 de outubro de 2020

Paula Jones (Paula Cincurá) é turismóloga de formação e atualmente cursa pedagogia. Trabalha como professora de Educação Infantil em Itaberaba, na BA. Nos tempos livres gosta de ler, ouvir música e não dispensa um chocolate (acredita no poder terapêutico que ele tem contra o estresse). Instagram @paulasallescincura