O poder que tem as palavras

Mudar é preciso. Imagem: Free Pik.

Written by: Coluna

Imagine esta ilustração simples:

Enquanto Henrique se arrumava para encarar mais uma aula de sexta-feira, com uma turma bem animada, sua mãe – como fazia dedicadamente todas as manhãs – preparava o café reforçado para que ele pudesse começar o dia com mais energia. Na mesa havia as coisas que ele mais gostava: crepioca, torrada integral, geleia e banana.

– Que cheiro bom! – disse o filho ao sentar à mesa. – Humm! Estou com uma fome de leão! Hoje é dia de muito treino, pois o campeonato está cada vez mais próximo e temos que nos concentrar. A medalha de ouro nos espera.

Minutos depois, ele saía para seu treino e a mãe o observava.

– Deus abençoe meu filho! – disse D. Zuleika sentimentalmente, ao ver o filho deixando a cozinha para mais um dia de trabalho.

Agradecimento. Imagem: Free Pik.

Agradecimento. Imagem: Free Pik.

Para muitos a expressão “Deus te abençoe” pode não ter tanto valor ou importância (mesmo aqueles que a ouvem). Acredito que a importância esteja em quem a professa, que a faz de coração (de todo coração). Ela está desejando o melhor para o outro; de alguma maneira está atuando a seu favor, pois ao bendizer ao outro está atraindo a proteção de Deus para aquele a quem ama ou quer bem.

Assim como “Deus abençoe”, ou um simples “bom dia, boa sorte, seja feliz ou vá com Deus” e tantas outras saudações ou frases que expressam sentimentos singelos, as palavras podem nem sempre ser positivas. Ao contrário das ditas anteriormente, algumas podem causar um tremendo estrago. Podem gerar sérias complicações, um tanto difíceis de serem resolvidas.

Estendemos isso para uma tomada de decisão importante. Pensem em como a palavra “não“ pode ser determinante para o sucesso ou fracasso; e a palavra “sim” pode mudar consideravelmente o nível da situação. Palavras distintas, ambas decisivas.

É possível notarmos isso quando há uma série de acontecimentos que acabam nos deixando desapontados e sem saber exatamente o que pode ser feito para minimizar os estragos produzidos por uma palavra mal dita. Dessa forma, ou nos esquivamos ou criamos uma certa resistência, ainda que interiormente saibamos que a verdade não é essa. Simplesmente agimos assim, por julgarmos ser melhor adiar a enfrentar o problema.

Pensar para dizer. Imagem: Free Pik.

Pensar para dizer. Imagem: Free Pik.

Nossas palavras têm de fato o poder de causar, transformar ou destruir. Cada uma de maneira significativa e objetiva consegue de forma muito eficaz um retorno positivo ou negativo. E torcemos para que aconteça o primeiro.

Essa realidade pode ser vista quando uma amizade ou uma relação que inicia com uma boa conversa, acaba facilmente com uma palavra mal dita ou fora do lugar. Trazendo para as nossas vidas sérias consequências que afetam o nosso bem-estar físico, psicológico e emocional. Com certeza você já se deparou em algum diálogo no qual já ouviu pelo menos uma dessas frases: “Você não presta para nada, nunca vai vencer na vida, tomara que tudo dê errado, você nunca vai se casar, não quero te ver nunca mais”. A lista pode ser grande.

Essas palavras e frases tão duras muitas vezes ouvimos da boca daqueles que nos amam e que também amamos. A maneira como o outro fala, se expressa, tem um peso muito forte dependendo do quanto há de verdade e intenção nessa fala. Esses conflitos poderiam ser resolvidos em tempo hábil, mas por falta de traquejo, orgulho ou imaturidade de ambas ou uma das partes envolvidas, deixa-se prolongar, o que acaba gerando dentro de nós uma grande tempestade e abre uma porta gigantesca para aqueles pensamentos indesejados, recorrentes, que acabam nos aprisionando por aquilo que ouvimos e internalizamos, nos consumindo pouco a pouco, dia- a- dia.

Dormimos e acordamos com ele e vivemos sem querer numa gaiola de sentimentos mal resolvidos que desencadeiam feridas profundas que demoram a cicatrizar. Outro dia li uma frase muito interessante que dizia: “Nem mesmo o seu maior inimigo pode ser tão prejudicial a você quanto os seus pensamentos”.

É engraçado pensar que no ímpeto de uma discussão soltamos palavras que ferem demais o outro e nos permitimos ou nos apoiamos na frívola justificativa de dizer que: “ah, foi força de expressão”, “não tive a intenção!”, “falei sem pensar, ou não foi bem isso que quis dizer”. Para quem fala, foi algo superficial, mas para quem ouve, a marca se torna profunda.

Qual o remédio para isso?

Ilustração Aristóteles. Imagem: Internet.

Ilustração Aristóteles. Imagem: Internet.

Se fosse pedir ajuda a Aristóteles, ele responderia: “O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre em tudo o que diz”.

Arrisco-me a dizer que muitas palavras mal ditas ainda virão ou estarão presentes em algum dos nossos dias, o que nos leva a pensar que a solução não é tão simples assim, requer um trabalho minucioso, e cuidadoso de empatia. Ao nos permitirmos um diálogo, e para que ele seja saudável, é preciso pensar… pensar antes de falar.

Um exemplo é que todos nós somos a favor da verdade, por mais dura que seja, porém dependendo de como se embrulha uma verdade, o processo de aceitação pode ser suave e produtivo, como também desastroso e temerário. Não podemos ficar insensível a dor do outro.

Aquilo que eu falo é de minha total responsabilidade e se não saudável pode ser destrutivo. É uma linha muito tênue, e não há como controlar as reações e sentimentos de outras pessoas, mas é possível controlar o que falamos e como conduzimos uma conversa. Não podemos deixar que a nossa sensibilidade se ausente das nossas conversas, das nossas relações, do respeito mútuo que deve haver um com outro.

“Aquilo que você não diria a você, não diga para o outro”. Frase dita por um pensador romano chamado Sêneca, que devíamos nos esforçar para pô-la em prática.

Não é difícil escutarmos a seguinte frase: “Nunca me esqueci daquilo que você me disse”. Forte, não? Porque de fato, para a pessoa que ouviu a palavra teve tanta força que ela inda não conseguiu esquecer. Se for para ter algo ecoando nos nossos ouvidos por toda vida, que seja algo transformador, e não o contrário.

Não estou aqui querendo dizer que a solução é não falar, não precisa se transformar numa árvore, nem evitar conversar e não tentar resolver conflitos ou coisas que foram mal interpretadas. Ou até mesmo mandar um WhatsApp ou e-mail que não vem com a entonação do remetente. Assuntos delicados devem ser tratados pessoalmente, de forma cuidadosa e assertiva, sem deixar margem para especulações.

Vale aludir que existe uma enorme necessidade de reeducarmos, alimentarmos e restabelecer o nosso vocabulário. Tendo sempre em mente que uma palavra pode tanto levantar como derrubar alguém, pode emocionar, como também ferir sentimentos, pode trazer felicidade ou decepção a quem escuta, aproximar como também afastar amigos. Além disso, tem o poder de externar o amor, a alegria, o respeito, a admiração, a generosidade, mas também dependendo da forma como é falada, pode carregar sentimentos opostos a estes referidos.

Existe um hábito horrível em descarregarmos tudo pela boca. Mudar esse mau hábito é preciso. Aprenda a ter consciência do impacto que uma palavra pode ter. É indiscutível a força que a palavra tem, ela é um mantra em ação. Quando materializada reflete os sentimentos.

O apóstolo Tiago também fez sua contribuição ao falar do poder que a língua humana tem: “a língua porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”. (Tg 3: 8,9).

Viver como adultos requer uma postura definida de uma fala mais consciente e exige habilidade de sabermos falar com congruência e sabermos a hora certa de calar. O ser humano foi feito para falar, mas precisa vir sempre acompanhada de prudência. Use a fala positivamente. Mude suas palavras e então, mudará o seu mundo.

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Tags:, , , Last modified: 20 de outubro de 2019

Paula Jones (Paula Cincurá) é turismóloga de formação e atualmente cursa pedagogia. Trabalha como professora de Educação Infantil em Itaberaba, na BA. Nos tempos livres gosta de ler, ouvir música e não dispensa um chocolate (acredita no poder terapêutico que ele tem contra o estresse). Instagram @paulasallescincura