A discussão foi feia naquela tarde. Saí de casa sem destino, desorientado. Quando o nervosismo me deixou enxergar, estava sentado à mesa em uma praça no centro do bairro. Era um lugar a ser evitado e ficava mais deserto ao anoitecer.
O que me importava, queria ficar só. Meus pensamentos me sufocavam. A respiração e os batimentos alterados.
Ela, bem lentamente, aproximou-se de mim. Confesso que não percebi sua leve chegada. O vento encantou o encontro e trouxe o perfume dela que, como um sutil cumprimento, logo me envolveu.
Quando me tocou, o meu corpo estremeceu. Senti o seu suor a me tocar. Isso me fez entender que ambos estavam apreensivos. Sua presença era muito agradável, possuía uma habilidade incrível em me atrair e me acalmar.
Aos poucos foi ganhando coragem e atrevimento. Seus toques ficaram mais intensos e amáveis. Era tudo de que eu precisava. A mágoa foi desaparecendo. Relaxei. O vento consentia aquele relacionamento e a empurrava ainda mais para mim.
Fechei os olhos e não quis mais abri-los, enquanto minha desejada companhia tocava em meus lábios. E então, ela resolveu me acariciar louca e intensamente. Logo me entreguei ainda mais às suas carícias.
Porém os seus beijos macios deram lugar a babas barulhentas no meu rosto. O abraço, ora agradável, ficou muito suado, incômodo e o vento agora trazia frio. Como se voltasse de um transe, abri os olhos à procura dela. Eu estava sozinho em meio à chuva forte na praça.
Na esquina, minha esposa, sob o guarda-chuva, a me observar. Ela ria e balançava a cabeça como se entendesse tudo. Espreguicei-me cinicamente a fim de disfarçar e de diminuir meu constrangimento.
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“Direi a ela que estava meditando”, pensei comigo. “E desde quando, meditação beija o vento?”, dirá. “É o ápice da meditação!”, responderei.
Não tinha outra coisa a fazer, fui ao encontro da minha senhora. Ao me aproximar, ainda envergonhado, tentei colocar em prática a desculpa ensaiada, mas antes que eu falasse, minha verdadeira companheira apenas disse: “Vamos para casa, meu amor”.
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