Bem-vinda

Written by: Coluna Destaque

A discussão foi feia naquela tarde. Saí de casa sem destino, desorientado. Quando o nervosismo me deixou enxergar, estava sentado à mesa em uma praça no centro do bairro. Era um lugar a ser evitado e ficava mais deserto ao anoitecer.

O que me importava, queria ficar só. Meus pensamentos me sufocavam. A respiração e os batimentos alterados.

Ela, bem lentamente, aproximou-se de mim. Confesso que não percebi sua leve chegada. O vento encantou o encontro e trouxe o perfume dela que, como um sutil cumprimento, logo me envolveu.

Quando me tocou, o meu corpo estremeceu. Senti o seu suor a me tocar. Isso me fez entender que ambos estavam apreensivos. Sua presença era muito agradável, possuía uma habilidade incrível em me atrair e me acalmar.

Aos poucos foi ganhando coragem e atrevimento. Seus toques ficaram mais intensos e amáveis. Era tudo de que eu precisava. A mágoa foi desaparecendo. Relaxei. O vento consentia aquele relacionamento e a empurrava ainda mais para mim.

Fechei os olhos e não quis mais abri-los, enquanto minha desejada companhia tocava em meus lábios. E então, ela resolveu me acariciar louca e intensamente. Logo me entreguei ainda mais às suas carícias.

Porém os seus beijos macios deram lugar a babas barulhentas no meu rosto. O abraço, ora agradável, ficou muito suado, incômodo e o vento agora trazia frio. Como se voltasse de um transe, abri os olhos à procura dela. Eu estava sozinho em meio à chuva forte na praça.

Na esquina, minha esposa, sob o guarda-chuva, a me observar. Ela ria e balançava a cabeça como se entendesse tudo. Espreguicei-me cinicamente a fim de disfarçar e de diminuir meu constrangimento.

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“Direi a ela que estava meditando”, pensei comigo. “E desde quando, meditação beija o vento?”, dirá. “É o ápice da meditação!”, responderei.

Não tinha outra coisa a fazer, fui ao encontro da minha senhora. Ao me aproximar, ainda envergonhado, tentei colocar em prática a desculpa ensaiada, mas antes que eu falasse, minha verdadeira companheira apenas disse: “Vamos para casa, meu amor”.

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Tags:, , , , , , , Last modified: 2 de abril de 2021

Carioca de 37 anos, é casado com a Joyce e pai da pequena Nicolly, de 5 anos. É cristão, militar da FAB desde 2004 e também trabalha como professor de Língua Portuguesa nas horas vagas. Como carioca da gema, não gosta muito de dias chuvosos. Sua paixão pela leitura e pela escrita iniciou ainda menino por orientação de seu pai. Adora livros contemporâneos de ficção. Seu primeiro romance “Páginas para meu Filho” será lançado em agosto em 2021 na Amazon. Siga-o no Instagram: @_juniorpedroza