Outro dia conversando com uma amiga muito especial, ela me contou uma situação que havia vivido há poucos dias, e que desencadeou nela um sentimento de medo e dor.
Para esta joia rara, ser mãe é e sempre foi seu maior sonho. Ela cresceu em um ambiente familiar muito acolhedor, com uma mãe zelosa e presente. Sempre ganhou bonecas nos aniversários e natais, por muitas vezes cuidou dos filhos de suas amigas. Ela tinha e tem o dom para atrair as crianças de maneira a lhe cercarem espontaneamente, a estarem com ela por opção.
Não à toa, havia planejado perfeitamente seu futuro ainda na adolescência – como é muito comum aos jovens fazerem. Aos 25 anos já estaria casada, vivendo a experiência de organizar os utensílios domésticos, cozinhar para seu marido, demonstrar interesse em saber como foi o dia dele no trabalho, ir ao cinema de mãos dadas no fim de semana, ter um homem firme ao seu lado com quem pudesse contar.
Claro que a sociedade mudou muito nas últimas décadas e a família, como projeto de vida, saiu do radar de muitos rapazes e moças. Diferente da geração atual que prioriza a carreira profissional e sonhos particulares em detrimento ao projeto “família”, para Cristal, esse sonho estava ainda no topo da lista.
Gerar um filho, amamentá-lo, vê-lo crescer, acompanhar o primeiro passo, estar com ele no primeiro dentinho nascido, levá-lo à escola e chorar quando desse as costas para sair, comprar roupas com a sua carinha. Tudo muito legítimo e sincero. Tudo muito perto do coração de Deus!
Não sou mãe ainda, mas sinceramente acredito que nenhuma mulher que tenha desejado um filho e que tenha realizado seu intento, possa dizer que esse “evento” passou despercebido em sua vida. Que se pudesse voltar atrás, não teria vivido essa experiência com força e vitalidade ainda maiores do que fez.
Como alguém que também ama crianças e se sente mãe de duas meninas que lhe roubam lágrimas, sorrisos, preocupação e muitas orações, penso que essa experiência é, sim, transformadora. Redentora até para as mulheres mais desavisadas e insensíveis (se se permitirem ser tocadas, claro).
Devo dizer também que um dos momentos mais felizes e inesquecíveis que tenho registrado em minha memória afetiva foi quando levei “minha” pequena de três anos ao zoológico em São Paulo. Foi nosso primeiro passeio sozinhas e tudo era novo e deslumbrante para ela. Tudo foi novo e deslumbrante para mim também. Se eu contar essa experiência, vocês vão chorar comigo. ^
Perdoem-me pela digressão.
Voltando à minha amiga Cristal, apesar do sonho do casamento ter surgido ainda na adolescência e, por consequência, da maternidade vir até no máximo 30 anos, o tempo pregou uma peça nela – e em tantas outras que conheci.
Como os planos não saíram exatamente como o esperado, Cristal não se isentou de ir para a vida acadêmica e de, inclusive, fazer duas faculdades. Ela também trabalhou e trabalhou muito para conquistar projetos pessoais, fazer algumas viagens, sustentar-se por conta própria e em alguns momentos até estender sua imensa generosidade e conta bancária a outros.
Enquanto seu projeto familiar não se concretizava, ela seguiu “esperando” e caminhando. Porque a espera não anula o passo.
Mas naquela tarde de abril, ao gentilmente cobrir uma colega na recepção dos alunos no portão da escola onde trabalhava, ela se deteve numa situação que lhe constrangeu, entristeceu, fez seu coração doer e chorar e sua frustração ir às alturas.
Ao ver uma mãe deixar seu filho, a mulher virou-se para se despedir:
– Te amo filho. Te vejo mais tarde.
E a criança responde carinhosamente.
– Até mais tarde, MAMÃE!
Cristal não conseguiu se conter. Foi invadida por lágrimas grossas e pesadas. Chorou ali mesmo. Por um instante foi acometida por uma pergunta enviada de sua razão maquiavélica que dizia.
Será que algum dia você será chamada de MAMÃE?
Ela não sabia o que fazer, ali, parada no portão, diante de tantas mães e pais que vinham entregar as crianças para as aulas que logo começariam.
Ela queria sumir dali. Se teletransportar para outra galáxia. Queria ser invisível.
Ela queria também poder ouvir aquela palavra: MAMÃE.
Queria estar ali, na condição daquelas mulheres, entregando seu filho ou seus filhos para professoras zelosas. Queria retornar no final do dia para buscá-los.
Uma palavra tão doce. Como ela mesma dizia sempre: a palavra mais doce que se pode ouvir.
Às vezes a vida é cruel conosco!
Alguns desejam desbravar o mundo e nunca conseguiram cruzar a fronteira de outro estado; outros queriam apenas sonhar a dois, mas foram desencorajados ou incompreendidos em suas motivações; tantas outras queriam apenas ser mãe, enquanto vemos mulheres saudáveis e jovens abortando crianças como se elas fossem uma unha do pé a ser cortada. Havia ainda aqueles que nasceram extremamente inteligentes ou autodidatas, mas a preguiça em fazer algo por si mesmo os mantém preso ao sofá.
Alguém disse uma vez: “Parem o mundo que quero descer!”
É compreensível esse sentimento ou sensação quando nos deparamos com um mundo que parece estar de cabeça para baixo, ruindo diante de nossos olhos tão fatigados. Olhando para as coisas perfeitas que Deus, o Criador, fez com tanto zelo e organização, não faz mesmo sentido o rumo que as coisas tomaram nos nossos dias.
Lembrei-me do filme “O amor não tira férias” (comédia romântica, 2006). No início da narrativa vamos acompanhando a personagem da Kate Winslet divagando sobre o amor. Ela começa dizendo:
“Eu descobri que quase tudo que já escreveram sobre o amor é verdade. Shakespeare disse: encontro de amor é jornada finda. Que ideia fabulosa!”.
Com melancolia e bom humor, como é próprio das comédias românticas bem construídas, vamos acompanhando a história de duas mulheres com vidas, profissões e posturas bem diferentes que, ao se conectarem, descobrem algo forte em comum: o coração machado por relacionamentos que não deram certo.
Iris (Kate Winslet), segue narrando:
“Para alguns, de maneira inexplicável, o amor começa a murchar. Para outros, o amor simplesmente se perde. E há também um outro tipo de amor. O tipo mais cruel. Aquele que praticamente mata suas vítimas. Ele se chama amor não-correspondido. E eu sou especialista nele”.
Mais adiante finaliza: “E quanto a nós que nos apaixonamos sozinhos?”
Eu diria mais:
- E quanto a nós que queremos sonhar ou viver a dois e não temos perspectivas reais?
- E quanto a nós que queremos viver a experiência da maternidade e não enxergamos possibilidades?
- E quanto a nós que desejamos o lícito e não vemos a sorte mudar a nosso favor?
O paralelo que faço desse filme com a história de Cristal refere-se ao tema “sonhos não realizados ainda”. E digo “ainda” porque sou uma entusiasta convicta de que irei ao “Chá de Panelas” e “Chá de Bebê” da minha doce Cristal, apesar de todos os traumas que esses chás sem sentido me trazem.
Iris, de um lado, e Amanda (Cameron Diaz) do outro, precisam reorganizar seus sentimentos e motivações para se auto conhecerem. É por isso que estão no desalento emocional. E nesse processo de aprendizado, elas passam a enxergar, viver e dar novos significados para as coisas. Elas aprendem a ressignificar.
E Amanda, que não levava qualquer jeito para o sentimentalismo piegas da vida, é conquistada pelo amor de duas garotinhas lindas. Cristal não teria nenhuma dificuldade para lidar com isso.
E quanto às lágrimas que minha amiga tão querida derramou naquele dia e ainda derrama nas noites em que a solidão bate, meu conselho é: acredite!
“Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” Sl 30:5
Que texto maravilhoso me identifiquei com ele parece que conheço a personagem, parabéns bjs ?
Obrigada, Celinha. A identificação é nossa, querida. Obrigada pelo comentário. 🙂
Uau!!! Já quero ser amiga da Cristal, dar um grande abraço daqueles demorado e dizer: Tenha fé, vc vai conseguir!
Amei o texto, nunca podemos desistir.
Amém, Adriana. A Cristal é mesmo uma fofa. Vocês seriam grandes amigas! E quanto a acreditar: Sem fé é impossível agradar a Deus!
Que Ele venha mesmo a realizar os sonhos da nossa Cristal e de algumas outras que O amam. 🙂
Texto maravilhoso e extremamente sensível.
Lágriminhas nos olhos e fé na mente e coraçāo. Nāo desista Cristal!
Como existem outras “Cristais” por aí, este texto pode ser um ode ao clamor de vários corações. Que nenhuma de nós desista de seus sonhos!
Obrigada pelo carinho, Paula Jones. 🙂
Parabéns!!! Lindo texto!!! Até já sei quem é a Cristal. Mas como você disse, existem muitas… Que todas elas tenham seus sonhos realizados em Deus. ?
Amém, Gilmara. Que Deus faça aquilo que nós não podemos fazer. Bem-vinda aqui. 🙂