A parábola do credor incompassivo

Written by: Destaque Reflexões à luz

Neste 01 de janeiro de 2021, quero compartilhar com vocês uma mensagem bíblica que enche meu coração de amor e gratidão.

Para quem não conhece o termo, “parábola” é uma história contada para explicar uma verdade complexa. Jesus, em várias passagens relatadas nos quatro evangelhos (na Bíblia Sagrada), contou uma série de parábolas para ensinar verdades e lições a seus discípulos e também para responder dúvidas e provocações feitas pelos fariseus e pelo povo que tinha curiosidade em conhecê-lo.

Muitas pessoas o seguiam para ouvir o que ele pregava e outras para receber algum benefício pelas atitudes que Ele demonstrava (curas, acolhimento, perdão, incentivo etc).

Alguns conceitos são difíceis de explicar por serem abstratos, mas, quando inseridos em uma história (que não necessariamente aconteceu), ficam mais fáceis de elucidar e transmitir.

Como muitos dos discípulos trabalhavam no campo, e eram homens simples e iletrados, Jesus usava o trabalho agrícola e as situações econômicas vivenciadas naquele tempo como exemplo em suas parábolas.

O reino dos céus é semelhante

Uma das minhas histórias favoritas (se assim posso dizer) está relatada em Mateus 18, dos versículos 23 a 35. Antes, vale ressaltar que Jesus usou as parábolas para explicar alguns temas complicados como:

  • A salvação – na parábola do semeador (Lucas 8:4-8)
  • O Reino dos Céus – na parábola do grão de mostarda (Marcos 4:30-32)
  • O perdão de Deus – na parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-31)
  • O amor ao próximo – na parábola do bom samaritano (Lucas 10:30-37)
  • O Juízo Final – na parábola do trigo e do joio (Mateus 13:24-30)

Na parábola do credor incompassivo (Mateus 18, dos versículos 23 a 35), ele começa contando que “o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos”.

Na sequência, a história apresenta um homem (um servo) que devia dez mil talentos para aquele rei (vamos imaginar R$ 10 mil reais) para ficar próximo à nossa realidade.

O texto diz:

E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê paciente comigo, e tudo te pagarei.
Então o Senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Mateus 18:25-27

Lindo, não?

Pois na sequência, esse mesmo devedor que recebeu o perdão de uma dívida que não poderia pagar, deparou-se com um conservo que lhe devia cem denários (R$ 100 reais na nossa moeda para melhor exemplificar).

Este homem, que minutos antes recebeu compaixão do rei, não demonstrou de forma alguma a mesma generosidade e paciência com aquele que lhe devia.

O texto diz:

Então seu conservo, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Mateus 18:29,30

Os amigos do devedor sem compaixão se entristeceram pela atitude dele e foram, imediatamente, contar o ocorrido ao rei.

O que aconteceu na sequência é justamente a grande lição que Jesus quis trazer com essa parábola.

Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
E, indignado, o seu senhor o entregou aos verdugos (atormentadores), até que pagasse tudo o que lhe devia.
Assim também meu Pai celestial vos fará se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão. Mateus 18:32-35

Aqui está muito clara a mensagem que Jesus quis exemplificar: que devemos perdoar nossos devedores (e aqui não se trata especificamente de questões econômicas ou financeiras), mas qualquer outro tipo de dívida, ofensa, atitude, prejuízo etc. E precisa ser um perdão genuíno.

Ressalto, entretanto, que perdoar não isenta a pessoa da responsabilidade ou das consequências de seu feito. E nesse caso, especificamente, Jesus não está dizendo que “não devemos cobrar o que nos devem ou buscar nossos direitos quando somos prejudicados”. Não é isso.

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A mensagem que Cristo trouxe é justamente aquela escrita com sangue na cruz (100% relacionada ao reino dos céus). Deus Pai exigiu a vida de Seu filho – santo, justo e sem pecado – para pagar uma dívida de morte (condenação) que nós, humanidade caída, nunca poderíamos saldá-la.

O trio mais rico do mundo

Ainda que fôssemos tão ricos quanto Jeff Bezos, Bill Gates e Elon Musk juntos, a dívida permaneceria em aberto porque ela não pode ser quitada com dinheiro ou posses humanas.

De igual maneira, Deus Pai Todo Poderoso, quer nos ensinar que todos os dias devemos demonstrar misericórdia por aqueles que nos feriram ou prejudicaram (ainda que tenha sido de propósito, como às vezes acontece). A verdade é que aquele que perdoa é quem fica melhor na história.

Parece loucura, não? E talvez seja mesmo. rs

Mas o Evangelho pregado e vivido por Jesus Cristo e seus discípulos e apóstolos vai 100% na contramão do mundo em que vivemos. Por isso é uma mensagem que exige de nós uma mudança de mente, uma transferência de reino, um esvaziamento diário de nossas convicções e certezas humanas.

E uma coisa é fato: todo aquele que já se sentiu perdoado por alguém a quem feriu (e desejou reaver a situação), sabe bem o quanto é significativo poder receber uma nova chance, sentir que a pessoa realmente zerou o placar, deixou para trás a dívida, não se mostra mais ofendida ou entristecida pelo fato.

Ufa!

Como Jesus mesmo disse em Lucas 7, versículo 47, quando ofereceu perdão para uma mulher popularmente pecadora que lavou seus pés e os enxugou com seus cabelos durante um almoço na casa de um fariseu chamado Simão: “Aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama”.

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Tags:, , , , , , Last modified: 1 de janeiro de 2021

Ellen Costa é o pseudônimo de Jucelene Oliveira, jornalista e escritora. Apaixonada por ouvir e contar histórias. Autora dos livros "Baque: você tem coragem de descobrir a verdade?" e "Crônicas da vida real", ambos disponível em e-book na Amazon. Idealizadora do Arte de Escrever. Instagram @ellencostaescritora