“Vendi dindin de bicicleta para comprar minha câmera fotográfica”, conta fotógrafa

Há mais de um ano, Naty Santos atua como fotógrafa de casamentos e eventos, e se sente cada vez mais motivada a continuar.

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Texto: Jucelene Oliveira | Fotos: Naty Santos

O que poderia ser apenas uma simples brincadeira de menina, configurou-se, após muito esforço e determinação, em um sonho realizado. Assim que concluiu o ensino médio na cidade de Timon, no Maranhão, Maria Natividade Santos Batista passou a desejar com todas as suas forças ter uma câmera fotográfica para estabelecer o início de uma profissão, mas as condições financeiras precárias em que se encontrava tendiam a projetar o sonho para mais adiante.

“Eu desenvolvi esse interesse pela fotografia assim que terminei o colegial. Eu precisava dar rumo à minha vida, mas não queria que fosse apenas algo por dinheiro. Eu buscava uma coisa que eu amasse e encontrei isso na fotografia”, conta.

O que Naty Santos fez para tornar seu sonho possível? Por não se contentar simplesmente com as limitações impostas pelo destino, ela arregaçou as mangas e foi à luta. Como? Investindo o pouco dinheiro que tinha juntado, das vendas de bijuterias que fazia para as amigas no colégio e na família em dindin (o nosso juju ou geladinho paulista).

Com eles prontos e colocados no isopor, ela passou a vendê-los de bicicleta de casa em casa, de porta em porta, de comércio em comércio, percorrendo toda a região onde morava, debaixo de um sol quente, muitas vezes escaldante, motivada pelos cliques e ensaios que faria em um futuro próximo.

Confiram o trabalho dela em suas redes sociais: Facebook, Instagram.

Fotógrafa Naty Santos, moradora de Timon no Maranhão.

Fotógrafa Naty Santos, moradora de Timon no Maranhão.

Para sua imensa alegria e ainda mais motivação, cinco meses depois seu trabalho diligente de vendedora de dindins lhe possibilitou realizar a compra de sua primeira câmera fotográfica. “O dinheiro que eu tinha das bijuterias era pouco, mas deu para comprar os materiais para fazer os dindins. Eu tirava uma parte para investir e guardava a outra para a compra da câmera. Durante cinco meses, consegui levantar R$ 1100 e comprei uma Canon T3. Ela tinha até alguns defeitos, mas por falta de entendimento na ocasião, eu não soube avaliar”, relata.

A fotógrafa Naty Santos, hoje com 24 anos, atua profissionalmente em casamentos, aniversários, ensaios e eventos há pouco mais de um ano. O trabalho tem lhe trazido frutos positivos e encorajamento para continuar. “Já possuo um público conhecido, também divulgo meu trabalho nas redes sociais. Além disso, existe a propaganda boca a boca que é mais efetiva no meu caso. Ainda divulgo meu trabalho dentro dos ônibus em Teresina, enquanto continuo vendendo chicletes e doces”, conta.

A cidade de Timon, no Maranhão, faz divisa com Teresina, Piauí – separada apenas por uma ponte. Isso facilita a locomoção da fotógrafa que continua alimentando o sonho de viver apenas do trabalho fotográfico.

“Ainda não consigo viver apenas de fotografia, mas meu objetivo é esse. A fotografia te possibilita sonhar. O maior desafio no momento tem sido me manter porque tenho gastos altos com transporte para fazer alguns eventos, mas continuo lutando para aprender e desenvolver cada vez mais meu trabalho”, menciona.

Confira abaixo o trabalho realizado por Naty Santos:


Aprendizados e razões para seguir em frente

Ao olhar para trás, a jovem sente-se agradecida à vida e as pessoas que confiaram em seu potencial e dedicação. “Minha família acreditou, mas nem todos. Alguns diziam que não daria dinheiro algum”. Contudo, apesar dos diversos percalços e dificuldades encontrados pelo caminho, ela também se recorda de uma situação que lhe marcou em particular.

“Um dia na oficina onde eu sempre passava e vendia meus dindins, falei da motivação para aquela atividade e o mecânico me deu, generosamente, R$ 100 reais para ajudar. Aquilo foi um marco na minha jornada”.

Outra lembrança que compartilhou foi em relação ao seu primeiro trabalho. “Onde moro há uma loja de eventos e eu já tinha conversado com a dona, e ela também me ajudou, informando-me que teria um casamento e que a noiva ainda não tinha fotógrafo. Então eu voltei à loja em outra ocasião, conversei com a moça e fechamos o contrato”, relembra.

“Minha primeira experiência foi justamente esse casamento. Nós conversamos, a noiva gostou de mim, sentiu confiança e embora fosse o primeiro trabalho profissional, passei a ela muita credibilidade. E ainda houve uma grande surpresa porque eu havia marcado o trabalho com uma amiga que tinha mais conhecimento em fotografia do que eu, mas no dia do casamento ela teve um problema e não pode ir. Eu fui pela fé e com muita coragem e deu tudo certo”, desabafa.

O aprendizado dela não veio de cursos, já que suas condições financeiras ainda se mostram um desafio diário. Ela conta que acompanhou e estudou (e ainda estuda) tutorais disponíveis na Internet. E que dedica cerca de 8h por dia ao aprendizado de fotografia. “Estudo muito pelo Youtube também, vejo ensaio, dicas de fotógrafos. Admiro o trabalho e aprendo com alguns profissionais da fotografia, que se tornaram referências para mim, como Thiago Amaral, Alessandro Gomes e Tibério Hélio. Além disso, também participo de feiras, exposições e eventos que tem por aqui. Sempre procuro ir para aprender e me atualizar”.

Confira mais algumas fotos:

 

Como nem tudo são flores, a fotógrafa ainda não consegue viver apenas de cliques e ensaios. Ela ainda trabalha diariamente como vendedora de bombons, chicletes e doces nos ônibus coletivos de Teresinha e consegue por dia uma média de R$ 80.

“Não consigo viver de fotografia apenas. Ainda não tive condições de trocar de lentes, por exemplo. Embora acredite que consiga fazer um trabalho com qualidade com as lentes 18-55mm, ter um equipamento melhor me ajudaria mais, mas sigo com fé, crendo que em breve as coisas vão melhorar”.

Ressalta com dignidade sua independência profissional. “Hoje faço tudo sozinha. Tenho um computador que já me proporciona fazer edição, tratamento das imagens e pós-produção”.

Fotógrafa de eventos, casamentos, aniversários e festas, ela diz que faz de tudo que aparece porque seu objetivo é se qualificar e expandir seu trabalho cada vez mais. “Também ainda sonho em trabalhar em outras cidades e claro, sair do estado. Conhecer e fazer trabalhos em outros lugares do Brasil. De qualquer forma, estou satisfeita com o que já consegui até aqui e principalmente tenho orgulho em dizer que sou fotógrafa”, finaliza.

Os moradores do Maranhão e do Piauí podem contar com o trabalho de Naty Santos. Para conhecer mais, acesse suas redes sociais: Facebook, Instagram.

Matéria originalmente publicada na revista Fhox, na qual trabalho como jornalista.

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Tags:, , , , , , , Last modified: 4 de novembro de 2020

Ellen Costa é o pseudônimo de Jucelene Oliveira, jornalista e escritora. Apaixonada por ouvir e contar histórias. Autora dos livros "Baque: você tem coragem de descobrir a verdade?" e "Crônicas da vida real", ambos disponível em e-book na Amazon. Idealizadora do Arte de Escrever. Instagram @ellencostaescritora